sexta-feira, 20 de junho de 2014

From Russia With Love

Os clássicos. O que seria nossa vida sem eles? 

 Claro que, os que hoje procuramos saudosamente nas nossas estantes em dias de chuva, já foram longas que passaram no cinema ineditamente e que foram até muito criticadas por alguns. Hoje nem conseguimos imaginar como isso podia acontecer, mas os tempos mudam e nós mudamos. 

 O que eu assisti há mais de doze horas é um dos mais clássicos: 007. From Russia with love. Quem já não viu pelo menos uma cena do filme? 

 O enredo é uma sucessão de eventos bem trançados que Ian Flemming construiu anos antes do filme em um romance progenitor dos demais, que também serviram de roteiro para outros filmes da coletânea. 

 A Guerra Fria é o pano de fundo e, nos mesmos dias em que esse filme estava tomando forma, outro grande clássico estava preste a se consagrar na história do cinema: o Dr. Strangelove de Stanley Kubrick. A supremacia de um dos dois blocos era o assunto do dia, sempre. Nos filmes, isso se via, também, de forma às vezes parodizada, às vezes só "embelezada" para aperecer com um charme aventureiro e intrigante. A série 007 foi pioneira nessa última vertente, adicionando toques de mistérios, como é o caso do From Russia with love, cujo climax se passa interamente nos vagões do famigerado Orient Express, entre os fantasmas de Agatha Christie.

 Lembrei muito de Inglorious Basterds do Tarantino quando revi a cena do vagão restaurante. Nos fotogramas, Grent, desfarçado de agente secreto britânico que supostamente ajudaria Bond, pede ao garçom peixe com vinho tinto, coisa que chama a atenção de Bond (e a nossa) por ser um tanto ousada. Vemos, pois, na cena seguinte, James Bond desmascarando o desfarce, ainda comentando "peixe com vinho tinto... deveria ter desconfiado que era russo!". No filme (e não somente nesse), os russos são retratados como brutos e sem sofisticação, em completo contraste com o gosto "fino" inglês. Mas, por que lembrei de Tarantino? Lembram aquela cena de Inglorious Basterds na taberna onde os alemães estão bebendo e alguns americanos querendo se infiltrar? O americano faz sinal de "drei Bier" à la ocidental, mas na Alemanha, como em outros lugares, o 3 se faz com dedos agrupados de forma diferente. Isso faz com que o alemão (James Bond do caso) desvende a tentativa de intrusão. Será que Tarantino é um dos fans de 007? 

 Pois bem. O charme do filme, inútil dizer, é o agente especial 007 que, com seu duplo "0" indicando a permissão para matar, carrega as fraquezas de um galante que mostra sempre uma forte habilidade e intuição que o salvam nas situações mais perigosas. Isso, óbvio, com o auxílio de ferramentas que nós já sonhamos em ter nas nossas gavetas. Em From Russia with love aparecem pela primeira vez: uma maleta "quente", o telefone (!) na Bentley do agente, uma câmera/gravador e um aparelho para detectar escutas no quarto de hotel; que vinha a ser, praticamente, a marca registrada do 007 e objeto de comentários do público: "quando vai usar isso?", "ele já usou?", "ah, agora que ele vai usar!". 

 Um dos detalhes, que também acompanha todos os 007 a seguir, é a sequência de abertura do filme com o tema da trilha sonora e cenas de mulheres (intrigando/inganando, não se sabe ainda), do próprio 007 e de armas. O todo é editado com sombras, às vezes com cortes inclinados e invertidos e mostrando só detalhes. Essa fantástica ouverture, que perpassa todas as épocas do 007 e, portanto, reflete cada período em modas da edição e do figurino, sempre faz um apanhado geral da história e uma pequena prévia do climax, sempre involvendo a bond girl da vez, ou uma mulher que se pareça muito com esta, para denotar sua personalidade misteriosa. Até o próprio Bond nem sempre aparece com seu ator da vez, pois ele próprio passa por momentos de perdição e dúvidas pessoais. 

 Em From Russia with love, ainda, vemos Sean Connery em sua segunda aparição como 007, o que viria a se consagrar como um dos sex symbols mais conceituados, para algumas, e como ídolo e herói bon vivant, para outros. Isso vem, um pouco, mudando com a “temporada“ de Roger Moore que faz um papel de agente um pouco mais atrapalhado. Voltará com Pierce Brosnan para ser novamente revisitado pelo nosso contemporâneo Daniel Craig. 

 O mais importante é que, mesmo com o passar dos anos, os mistérios, as reviravoltas, a interação das personagens, os epílogos e o próprio James Bond continuam nos entusiasmando de forma quase inexplicável, mesmo a quem conhece as cenas de cor.


Tatiana Romanova, a bond girl russa

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